Um pecadinho no fundo do baú é
gostoso como chocolate. Enquanto guardo esse pequeno monstrinho,
outros monstros maiores aparecem para buscá-lo. E daí eu luto com
esses maiores. “Saiam da minha vida!”, grito. “Senhor, me livre
desses monstros!”, peço. Ele me livra. De repente estou cercada de
monstros caídos e me sinto vitoriosa. “Abra o baú”, Jesus me
diz. “Deixe-me matar esse pequeno monstrinho. Deixe-me torná-la
livre.” Mas eu não quero abrir. Lá dentro está meu pequeno
tesouro, minha obcessão. Sua roupinha é florida e aparenta ser
frágil, e seu nome está bordado em letras bonitas: “APRECIAÇÃO”.
Eu quero tanto possuí-la. Quero tanto abraçá-la ao meu peito
enquanto ela suga minhas energias. Quero cuidar dela para mantê-la
comigo...
De repente vejo Jesus ao meu lado. Ele
está triste, e seu rosto parece cansado. Ele me olha nos olhos. Em
suas mãos está um belo fruto, mais lindo que tudo o que já tinha
visto. Como sempre, a apreciação está tentando roubá-lo para
manter-se forte. Tranco-a no baú. Pergunto a Jesus que fruto
maravilhoso é esse e como posso consegui-lo. “É a VIDA ETERNA”,
Ele me diz. “É linda, não é?” “Sim”, eu respondo, “É
perfeita. É tudo o que eu quero. Farei de tudo para experimentá-la.
Aonde a encontro?” Jesus me olha com olhar compassivo. Ele parece
ver que não entendo nada da vida mesmo. Me faz olhar para cima e me
mostra uma gigantesca montanha. Para chegar ao seu cume, é preciso
manter-se em equilíbrio constante ao longo de milhares de terríveis
perigos. A entrada da montanha está em algum lugar que não posso
ver, e não posso subir o despenhadeiro a me separar do caminho para
o cume. É tarde demais. Devo ter caído do despenhadeiro a tanto
tempo atrás, que nem me lembro se é possível voltar. Forço a
vista e vejo que no alto da montanha está uma linda árvore, repleta
dos lindos frutos da VIDA ETERNA. Mas está tão longe que me ponho a
chorar.
Jesus estende a mão e limpa minhas
lágrimas. “Não chore”, Ele diz. “Eu subi a montanha. Eu tenho
o fruto. E vim aqui para te dá-lo”. Olho espantada para Ele, não
pode estar falando sério. Subiu aquela montanha cheia de coisas
horríveis para colher esse fruto, e agora quer dá-lo para mim de
graça?
“Tome”, diz Jesus. “Fui eu que
criei a árvore”. “É de mim que ela dá a vida eterna. Mas você
estava tão longe de mim... precisei me tornar humano, para me
aproximar de você. E subi essa montanha, apenas para te dar o
fruto.” Eu já ia estendendo a mão para agarrar o fruto, quando
lembrei do baú com a apreciação. “Mas Senhor... e o que faço
com esse baú? O monstrinho vai roubar de mim a vida eterna. Ele
rouba tudo o que tenho para continuar vivo.”
“Entregue-me o baú”, Jesus diz.
“Você não precisa da APRECIAÇÃO. Você precisa do meu amor, e
porque eu te amo te dou a VIDA ETERNA. Entregue-me o que você
buscava e aceite de mim o que você precisa.”